terça-feira, 17 de junho de 2014

Aécim desesperado: Alceu Valença desmente apoio ao tucano

Foto: Facebook de Alceu Valença

O cantor pernambucano Alceu Valença desmentiu o boato de que estaria apoiando Aécio Neves. Através de uma postagem em seu perfil no Facebook, Valença disse em alto e bom som que falará de política na hora que ele quiser.

 “Digo, aqui, que não estou apoiando a candidatura do mineiro. Falarei sobre política na hora que eu quiser”, escreveu o cantor.

A resposta  foi direcionada à campanha de Aécio que editou e publicou uma foto antiga de Alceu como se ele estivesse em um jantar na casa de Luciano Huck, que reuniu alguns artistas para tratar da campanha de Aécio.

“Estão dizendo que a foto postada foi tirada na última semana na casa de Luciano Huck. Bom, não conheço o apresentador pessoalmente e nem sei onde mora. Há 3 anos uso barba. Quem postou a foto, coloque suas barbas no molho”.

Alceu Valença ainda diz que não sabe quem e como postaram uma foto vinculando o ao tucano e que não pertence a nenhum partido político e que exerce a sua cidadania de forma democrática. “Sou livre e não devo satisfação a candidatos, partidos ou cidadãos”.

A reunião citada por Alceu aconteceu há alguns dias e foi organizada pelo apresentador Luciano Huck para reunir alguns artistas para apoiar a candidatura tucana à presidência da república. O encontro dos atores foi alvo de discussão publica por Thiago Lacerda e Paulo Betti, que ironizou o encontro dos globais.

“Reunião de apoio a Aécio na casa de Luciano Huck e Angélica. Presentes Marcelo Adnet, Kaká, Andrucha Waddington, Fernanda Torres. Sem comentários… (risos)”, publicou Paulo no seu perfil do Facebook.

Lacerda respondeu que se sentiu bastante ofendido e atacou Betti dizendo que o autor que interpretou Lamarca no cinema não tem “nenhuma vergonha de mascarar o óbvio, cujo principal objetivo é propagandear a mesmice canalha que assalta o país”, postou.

De maneira leve e politizada, Paulo replicou e explicou para Thiago Lacerda que a divergência faz parte da democracia

“Thiagão querido, o colega de profissão sou eu! Eu que escrevi esse comentário e coloquei (risos). Democracia é cada um expressar o que pensa e se expor publicamente apoiando e discutindo política, civilizadamente, sendo responsável! Não sei por que minha ironia chocou você… Achei engraçado reunião política na casa de Luciano Huck. Bem-vindo à disputa política! Sempre vai ter ironia, quando não tem briga e porrada, e às vezes perda de emprego e etc. A situação de hoje já foi oposição, e te garanto que é tão difícil ser oposição quanto ser situação. Abração!”



sábado, 17 de maio de 2014

Cinco anos sem Mario Benedetti



As datas viram marcos quando nos faz lembrar de algo ou alguém importante e que nos faz falta. É esse o caso deste 17 de maio: cinco anos sem o ‘escritor cordial’,  o uruguaio Mario Benedetti.

Benedetti nasceu em 1920 em Paso de los Toros. Aos dois anos mudou com os pais para Tacuarembó, onde começou a estudar alemão na Deutsche e que, mais tarde, fez com que Mario fosse o primeiro tradutor do Kafka no Uruguai. Na sua juventude publicou ainda sete livros sem vender ao menos um exemplar.

Mario foi um jornalista de outro tempo, mas podia adaptar-se muito bem na situação atual dos jornalistas, pelo menos os brasileiros. Foi vendedor, funcionário público, contador, locutor, tradutor, taquígrafo por muitos anos, mas sempre foi também jornalista e escritor. Nunca deixou de escrever e as suas outras profissões serviram de cenário para os seus romances.

A academia também chamava a sua atenção. Dirigiu o Centro de Investigações Literárias, da Casa das Américas e o Departamento de Literatura Hisponoamericana da Faculdade de Humanidades de Montevideo, deixando o cargo somente em 1973, devido a ditadura militar.

A repressão o expulsou de seu país natal, mas o fez um cidadão latino americano e socialista. Por causa da repressão, foi para Argentina, Perú, Cuba e Espanha. Voltou para o seu país somente em 1985, quando a democracia já se reestabelecia.

Da vida escura, escondida, dura e cruel da repressão, resolveu defender a alegria como trincheira, bandeira, princípio, destino, certeza e direito. (Ver o poema Em defesa da alegria)

Benedetti foi um escritor pleno. Teceu poesias, contos, novelas, ensaios, críticas literárias, peças de humor - com o pseudônimo de Damodes - e até canções, presentes no disco Canciones del Más Acá, de 1988.

As suas personagens revelaam as mil facetas e a complexidade da alma humana, desnudando a dialética que movimenta a vida, em que é capaz de mudar até mesmo as circunstâncias mais estabelecidas.

A sua experiência política também serviu como enredo para os seus livros que, às vezes sutil, outras nem tanto, se preocupou com a ideologia, com os valores e com a moral. É essa cena de “Primavera num espelho partido”, em que, em plena ditadura, a personagem aguarda o seu companheiro sair da prisão, mas se apaixona por um amigo dele, que fazia parte da resistência à ditadura junto com seu marido.

A Trégua: amor, nacionalismo e consciência de classe

As mudanças e surpresas que a vida impõem estão em suas obras como o ritmo nas músicas. O escritor de A Trégua, obra que conta o romance entre Avellaneda e o Martín Santomé, funcionário público, viúvo e com 50 anos,  que se apaixona pela jovem  de 24 anos que muda a sua vida e lhe mostra o amor como um dos elementos emblemáticos da vida.

“ O amor breve ou longo, espontâneo ou minuciosamente construído, é de qualquer modo um apogeu nas relações humanas”, descreveu na apresentação de um dos seus 80 livros.

Com A Trégua, uma das obras mais importantes da literatura latino-americana, revelou a simplicidade, leveza e liberdade existente no amor:

“O plano traçado é a absoluta liberdade. Conhecer-nos e ver o que acontece, deixar que o tempo corra e reavaliar. Não há travas. Não há compromissos. Ela é esplêndida”, escreve Martín em seu diário enquanto esperava a resposta de Avellaneda.

É também nessa grande obra que dois conceitos evidenciam as ideias de nacionalismo e de classe do autor. Santomé está sentado num banco e vê um "operário municipal" cortando grama. Observa o trabalho, compara com o seu, pensa em ser garçom de café e conclui: "Esse que passa ( o de sobretudo comprido, orelha de abano, passo capenga e raivoso), esse é meu semelhante. Ainda ignora que eu existo, mas um dia me verá de frente, de perfil ou de costas, e terá a sensação de que entre nós existe algo secreto, recôndito laço que nos une, que nos dá força para nos entendermos. [...]. Mas não importa; seja como for, é meu semelhante".

Dentro desse mesmo momento de reflexão, demonstra grande pertencimento ao seu país, a sua nação e conclui: "Creio que nesse momento afirmou-se em mim uma convicção: eu sou deste lugar, desta cidade. [...]Cada um é de um só lugar na terra e ali deve pagar sua cota. Eu sou daqui. Aqui pago a minha cota".

Foi também obra de Benedetti traduzir tática e estratégia, dois conceitos que originaram dos planos exatos e da guerra, para a subjetividade da paixão:

“[…]Minha tática é
falar-te
e escutar-te
construir com palavras
uma ponte indestrutível
Minha tática é
ficar em tua lembrança
não sei como nem sei
com que pretexto
porém ficar em ti […]”

O poema Tática e Estratégia faz parte da reunião de outras diversas poesias em “O amor, as mulheres e a vida”, que se contrapõe ao título do livro de Arthur Schopenhauer , “O amor, as mulheres e a morte” e expressa a opinião de Mario de que as mulheres estão mais próximas da vida do que da morte e que só o amor é capaz de enfrentar a vida finita.

É justamente nessa antologia que Benedetti concentra os dois temas - amor e morte- no poema Última noção de Laura, que explica o final de A Trégua, ou melhor, dar a saída do escritor ao romance intenso e verdadeiro de Avellaneda e Santomé. Desta vez, é a jovem que fala de seu amor:

“[…] você é claro não sabe
já que nunca lhe disse
nem mesmo
naquelas noites em que você me descobre
com as suas mãos incrédulas e livres
você não sabe como dou valor
à sua simples coragem de querer-me”

As obras de Mario Benedetti são universais, são ficções que são articuladas com embates e desenlaces reais, o que faz com que muitos se identifiquem com suas histórias e as tornem como suas. Um dos seus últimos poemas,  resumi a experiência de vida:

[…] temos uma desordem na alma
mas vale a pena sustentá-la
com as mãos / os olhos / a memória
tentemos pelo menos nos enganar
como se o bom amor
fosse a vida […] (Resumo)

terça-feira, 1 de abril de 2014

Jornal Última Hora: um ponto de luz na escuridão


Na data em que é marcada por um dos episódios mais tristes da história brasileira, 50 anos do golpe militar, é inegável o papel da grande e velha imprensa neste ato. Contudo, há uma luz no fatídico episódio: o papel do jornal Última Hora, único grande jornal contrário ao golpe.

Por Ana Flávia Marx


 O jornal foi o único que defendeu Jango.
 O jornal foi o único que defendeu Jango.

O jornal do chamado “Profeta” Samuel Wainer, criado em 1953, a partir da negação da tese da “imparcialidade” e com o apoio do então presidente Getúlio Vargas, foi o primeiro alvo dos militares junto com a sede da União Nacional dos Estudantes. Com grande circulação nas camadas populares, os golpistas precisaram agir rápido para que o veículo não fosse pilar de alguma reação.

Diferente dos outros jornais que articularam junto com os militares e empresários o golpe, desde o seu início, Última hora imprimia em suas páginas claro posicionamento político. 

Em seus editoriais defendia incisivamente os trabalhadores, a democracia, o desenvolvimento e a soberania nacional. Portanto, sabia que em pleno período da guerra fria, as incertezas com a renúncia de Jânio Quadros trariam conflitos com forte influência da mão pesada dos Estados Unidos. 

As evidências vinham da própria boca das lideranças, principalmente de esquerda, que Wainer tinha relações e mantinha constante diálogos.

Menos de um mês antes do golpe, o dono do Última Hora reuniu se em sua casa com Miguel Arraes, que junto com Leonel Brizola e Luís Carlos Prestes, dialogava com amplos setores da esquerda. Depois de tomar algumas doses de uísque, Arraes disse à Wainer:

- No dia 13, teu amigo Jango cai, acaba, disse estendendo uma das mãos com o polegar para baixo.

As forças de esquerda queriam mais de Jango. Julgavam o muito conciliador, moderado demais para aqueles tempos de extrema polarização no cenário mundial em que a economia brasileira sentia os efeitos da luta internacional. Na última viagem aos Estados Unidos, Lyndon B. Johnson mostrou o poderio bélico norte-americano ao presidente Jango em uma contundente forma de intimidação.

Última Hora era um agitador da reformas de base, programa de Jango, e buscava esclarecer com matérias e reportagens especiais sobre as principais reformas. Naquele época, a reforma agrária tinha 74% de apoio, segundo pesquisa Ibope feita em 1964, porém não divulgada.

O próprio presidente Jango tinha uma relação muito próxima com o jornal Última Hora. Uma prova disso é o diálogo, do começo de 1964, em que o presidente comunicou Samuel Wainer que prenderia Humberto de Alencar Castello Branco, então chefe do Estado Maior do Exército.

A resposta do jornalista é que daria a manchete na primeira página, desde que o cárcere fosse efetivado, senão ficaria desmoralizado. E escutou do presidente:

- Vou mandar prender o general Castello Branco. Quem está dizendo isso é o presidente da República.

Depois de dar a grande manchete, quando o jornal não havia nem esquentado as bancas, João Goulart recebia em audiência o chefe das forças armadas, que já encabeçava as articulações do golpe.

Mesmo com a barriga imposta pelo presidente, o editor do Última Hora manteve contato com o dirigente brasileiro, pelo menos até aquela hora.

No dia 31 de março, por telefone, Jango fez o convite para que Wainer fosse com ele para Brasília, que respondeu:

- Não, Jango, não vou. Tu vais defender a tua presidência, eu vou defender o meu jornal.

Sentindo o “azedume” do golpe, Wainer foi naquele mesmo dia pedir asilo na embaixada do Chile.

Como a maioria das pessoas, o jornalista acreditava que o golpe não duraria muito tempo e que seu jornal viveria aqueles tempos atormentadores. Mas as sucursais do Última Hora viveu, de acordo com a realidade política de cada estado, situações diferentes.

O primeiro ato dos correligionários de Carlos Lacerda foi correrem para acabar com toda a infraestrutura do jornal. Com o empastelamento, o jornal voltou a circular no dia três de abril, somente com duas páginas, mas com os traços críticos da charge de Jaguar. 



Em São Paulo, o jornal retomou a sua rotina depois de 21 dias. “Quando voltou às bancas, perdera definitivamente a força de outros tempos, vergando-se à anemia que precipitaria sua venda e, mais tarde, sua morte”, escreveu o jornalista em suas memórias.

O jornal chegou a escrever que defendia “o futuro contra a cobiça dos interesses monopolistas internacionais – o que de resto constitui o centro de toda essa onda conspirativa contra as nossas instituições democráticas”.

Viver em uma ditadura militar era uma missão impossível, como um peixe fora d’água. Sem democracia, que era seu leito e justamente a brecha que havia utilizado para fundar o jornal, sem poder dialogar com os trabalhadores que há mais de duas décadas saiam da área rural em direção às grandes cidades, o jornal que desafiava a ditadura com manchetes como “Eleições, só de Miss”, foi vendido no dia 21 de abril de 1972.

Fontes consultadas: Minha razão de viver, Samuel Wainer e A Última Hora nos tempos de Wainer, da Associação Brasileira de Imprensa.

segunda-feira, 24 de março de 2014

O que eu queria ser...

Era exatamente essa edição que me acompanhava para cima e para baixo


No começo da minha vida militante, ganhei um livro sobre a Guerrilha do Araguaia, o título era “Guerrilha do Araguaia: Uma epopeia pela liberdade”. O livro rico em detalhes e análise sobre a guerrilha, em sua contracapa tinha  fotos de jovens que foram mortos naquela luta.

Andava com aquele livro pra cima e pra baixo, como se fosse o meu cartão de visitas, meu descanso no ônibus, meu pote de energia para as batalhas que enfrentava. Batalhas essas que não chega ao dedo mínimo daquela histórica.

Um dia, conversando com outros jovens sobre a perspectiva militante de cada, um cara ao ser questionado sobre o que queria ser, qual caminho queria prosseguir no partido disse:

- Todo mundo quer ser do comitê central, mas o meu sonho é ser da executiva nacional da UJS (União da Juventude Socialista, organização que todos da rodinha faziam parte).

Achei respeitável a opinião dele e não disse a minha porque tinha fama de esquerdista e esse rótulo já estava se transformando em algo superficial naquele ambiente. Então, não falei o que queria ser “quando crescer” na militância.

Hoje, sem sombra de dúvida, desabafo. Queria ser uma daquelas jovens que figuravam na contracapa do livro sobre a Guerrilha.


É claro que gosto de viver em um regime democrático, sei que o contexto é diferente, mas é esse sentido que quero dar para minha existência.