sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Rebelde do Traço


Fiz essa postagem em setembro de 2009 no blog Versos e Prosa (link ao lado).
Hoje faz 25 anos sem Henfil e repito a homenagem.


Homenagem para Henfil


Militante do movimento social e político, mineiro, cartunista, escritor, e jornalista, Henriquinho, filho da inspiradora D. Maria mos deixou traços inconfundíveis.

Em todas as suas atividades, lá estava à bandeira da democracia brasileira. Escrevia cartas para o povo brasileiro, driblando a ditadura com a imagem e características de sua mãe doce e compreensiva. Sofreu com AI 5, seu irmão Betinho foi exilado; no livro Diretas já ele ataca diretamente os grupos oligárquicos do Brasil, que atuavam no centro da política.

O silêncio da Graúna apresentava o grito daqueles que queriam eleger o seu presidente. Sutil e sensível tocava os seus iguais:

"Eu nunca soube amar. Eu nunca soube amar a cada um. Eu nunca soube amá-los como indivíduos. Eu nunca soube aceitá-los como feios, fracos e lentos. Tragam-me um doente e não chorarei com ele. Mas me mostrem um hospital e derramarei rios e mares. Eu não sei falar e ouvir um homem, uma mulher ou uma criança. Eu só sei fazer coletivo, massa, povo, conjunto.”

“Minha arte é fruto da minha importância de viver com vocês”

Mesmo hemofílico, mesmo sabendo que a sua vida poderia ser mais curta que a luta, ele lutava todos os dias, com lápis e papel, com esperança e medo, com silêncio ou paranóia.

Somos tudo que lemos, que vimos, ouvimos; todos os nossos sentidos, todas as relações que já tivemos; todos os projetos que já nos engajamos, todos os protestos que já fomos; todos os atos que não fomos.

A nossa consciência e inconsciência ganha forma para quem esteja interessado em coletivizar e disponibilizar, sem medo do julgamento, da critica e autocrítica. Por isso não só a primeira postagem do blog é uma homenagem a Henfil, mas sim a própria iniciativa de divulgar as nossas em um blog, sem ter como objetivo apenas o contador de visitas.


Cartas da Mãe - Publicada na revista "Isto é", em 1978.

Mãe,



Fiquei muito alegre quando os dubladores entraram em greve. Hah, sim, lembrei. Isso não é do tempo da senhora. Dubladores são aqueles que fazem a voz no lugar dos outros. Por exemplo, a voz da Kelly, uma das panteras, quem faz é a Neuza Amaral. A da Farrah, é a Marilisi….

A greve é justa, questão trabalhista. Ponto final.

Eu estou satisfeito é porque, depois do advento dos dubladores, nunca mais ouvimos a voz real do Kojak. Ficou chatíssimo ver filme de TV. Tanto faz ser John Wayne, Woody Allen ou Baretta. A voz é sempre a mesma do mesmo dublador. E a aflição que dá ver o Marlon Brando movendo os lábios assim, e a voz saindo assado?

Talvez o desespero que toma conta da gente, quando vê um filme dublado, seja apenas identificação. Nossa situação é a mesma, mãe! Nunca notou que a minha voz, a voz da senhora, do Carlito, da Regina, do Alfredo, da Jane, da Nelma, do Humberto, do Ivan, a voz de 110 milhões de brasileiros é feita pelo mesmo dublador?

Eu quero ouvir a minha voz!

Um beijo do seu filho,



Henfil

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