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Embora poucos, manifestantes levantaram cartazes contra a grande mídia |
Ontem
fui participar do movimento que está acontecendo aqui em São Paulo. Desde
quinta-feira estava, como muitos, com um grito entalado na garganta perante
tanta repressão aos manifestantes. Quando olhei a lista de pessoas presas
publicada por um jornal, fiquei ainda mais entusiasmada, pois na lista
constavam professores, artistas, garçonetes, desempregados e, claro,
estudantes.
Fiquei eufórica e mesmo sem ter ido, me identifiquei com a manifestação, reforçada
pela constatação cotidiana de que esse sistema de transporte está bem longe
para ser considerado de má qualidade. É mais do que péssimo!
Então,
com o coração acelerado, fui para a manifestação. Já no metrô, várias pessoas
falavam de vinagre, posts que viram nas redes sociais e que aquele ou outro
amigo também iria. Pensei: “Vai bombar”.
O gigante acordou?
Assim
que desci na estação Faria Lima, vi centenas de pessoas gritaram: “ôôôhh... o
Gigante acordou, o gigante acordou”. Fui da euforia à depressão e na escada
rolante me indignei:
-Como
acordou gente? E o eleição do Lula e da Dilma, a luta pela reserva de vagas, as
manifestações contra a guerra do Iraque,
a luta contra privatização da Vale, o pau cantando nas nossas costas nos
anos de pico do neoliberalismo?
Foi
aí que um menino, que faz cursinho no Anglo, virou pra mim e deu um sorriso, do
tipo “nem sei o que você está falando”. Esse sorriso me fez entender muito
sobre aquele público. Aqueles jovens não votaram no Lula ( e se bobear nem na
Dilma), não lembram o que é Alca, não estavam nas ruas, não conhecem essa pauta.
Infelizmente.
Milhares às ruas
Continuei
andando. E percebi que estava acontecendo algo novo na cidade. Quem participa
de entidade, organização não governamental, movimento social ou sindical sabe o
quanto é difícil levar as pessoas para as ruas para protestar. E foi
contagiante.
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Manifestantes levantaram flores
e gritavam "sem violência" |
Não há
qualquer pessoa que acredita que a mobilização de massa é motor para
transformações profundas e não encha seu coração de esperança quando vê as ruas
cheias, pessoas com as caras pintadas, a bandeira do Brasil tremulando, grupos
cantando o hino do Brasil, pessoas que quando se viram refletidas nos grandes
prédios espelhados, gritavam e vibravam pelo tamanho da passeata. Lógico que
essas cenas nos enchem de esperança.
Já
com mais esperança passei por quase toda a passeata. Ia e vinha, passando por
vários grupos e assim ouvi algumas das palavras de ordem:
Contra
a PEC 37 Contra o mensalão Contra a Copa Contra o bolsa família Contra Belo
Monte Contra a transposição do rio São Francisco Contra a existência da PM Contra
os governos Contra a bolsa estupro Contra Dilma Contra Haddad Contra Alckmin
Contra a pesquisa do Datena Contra a corrupção Contra a rede Globo Contra a
revista Veja Pelo fim do vestibular Contra José Eduardo Cardoso Por metrô 24
horas Contra a política Contra os Partidos. Pela redução da passagem, R$3,20
não dá! (Assim, tudo sem vírgula mesmo, para tirar o fôlego)
No
meio das andanças para ver quais eram as bandeiras levantadas nessa salada,
lembrei da matéria da Veja e do artigo do Arnaldo Jabor, intitulado “Eu errei,
não era só por 0,20 centavos”, em que constava boa parte das reivindicações
levantadas por Jabor. Resultado, a mídia ajudou a mobilizar e as suas pautas
estão pegando igual adesivo de campanha eleitoral, que cola na blusa e nunca
mais sai.
A
onda da ideologia dominante que prega ser contra os partidos e o culto ao
individualismo também estava presente na passeata. Histéricos, gritavam
as
palavras de ordem: “O povo unido não precisa de partido” ou “Queima a bandeira
do PT”. Um absurdo, violento, antidemocrático que beirava o fascismo.
Triste.
Uma massa, desgovernada - literalmente, com inúmeras bandeiras, de todos os
tipos, virando a direita. Triste. Mesmo que o Movimento pelo passe livre tenha
focado na questão da tarifa, que foi correto, faltou eles combinarem com os
russos. Nas ruas, os cartazes foram além.
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Alckmin está saindo ileso. Pressão está em cima de Haddad |
É
bom deixar claro, que foram alguns poucos espontâneos que levantaram cartaz contra o Alckmin. Além
desses espontâneos, os movimentos sociais “tradicionais” como Educafro,
Uneafro, Levante Popular da Juventude, UNE, UBES, UMES, PSOl, Partido Pátria
Livre, UJS e JPT direcionaram a sua mira ao governador.
Mudanças no jeito de fazer política
O
recado que ouvi das ruas é que a política precisa ser mudada. É claro que
alguns pensem: “É por isso que lutamos pela reforma política”.
Está
bem. Estou falando disso, mas não só.
A lógica da política baseada nas suas
superlideranças, superprefeitos, superpresidências, superdeputados, supervereadores, precisa
ser mudada. É preciso ter democracia de fato nas instituições, das prefeituras
ao governo nacional. Mudar da lógica de que as intervenções devem passar
exclusivamente por Fulano ou Beltrano. E isso acontece em todos os partidos e
até mesmo aqueles que se apresentam “sob os nomes mais diversos, mesmo sob o
nome de antipartido e de negação dos partidos”, como observou Gramsci.
O
equilíbrio entre as frentes de atuação, como os movimentos sociais também deve
estar na pauta no dia. Além de as entidades serem vistas como instrumentos de
mobilização, unicamente, mas como espaços de elaboração de política.
Para fechar, é bom lembrar Paulinho da Viola: “Há todo
instante rola um movimento que muda os rumos do vento”. Que esse vento vá para
a esquerda. Vamos à disputa.
“A toda hora rola uma história,
que é preciso estar atento.
A todo
instante rola um movimento
que muda o rumo dos ventos. Quem sabe remar não
estranha”