Comício das Diretas Já, em abril de 1984.
O que sou?
Senão a mistura de lágrimas e uru’ku
Que derramamos ao ouvir o grito de Colombo
E seus jesuítas (in) disciplinadores
O que sou?
Senão o sangue derramado pelos bandeirantes
Senão o choro iluminado pelo ouro da natureza
O que sou?
Senão o suor dos garimpeiros de Ouro Preto
Senão a dança dos açoitados, que atravessaram a águas do Atlântico
Para dar suas vidas em nome de poucos desgraçados.
O que sou?
Senão o trabalho forçado e escravo,
Dos seringueiros, dos catadores de cacau
Dos cortadores de cana – que por uma dose- servia os bacanas
Que desejavam muito que nunca fossemos uma nação.
O que sou?
Senão aqueles que jogaram bolas de gude,
Que enfrentaram os cães (de) e guardas
Que nos mostraram que nossos sonhos
Jamais envelhecem
O que sou?
Senão a luta desbravada, armada
Das flores de Xambioá
Senão a luta de alma lavada
Dos cravos de São Bernardo dos Campos
O que sou?
Senão a luta por democracia,
Senão a concentração do Anhangabaú
Onde o povo com muita agitação
Disse em alto e bom som: “Queremos escolher o presidente da Nação”
O que sou?
Senão a alienação e angustia de 16 anos de neoliberalismo
De ostracismo da burguesia internacional e suicídio da educação
Senão o movimento e resistência contra o ataque da privatização.
--“Nós não estamos à venda”
O que sou?
Senão a luta para ampliar as vias democráticas
Senão a luta para fortalecimento e reconhecimento da Nação verde amarela
Senão o movimento, que muda o rumo dos ventos e vai pintando outro quadro de correlação
O que sou?
Senão a luta do novo que flui e desperta a massa
Com muitos elementos, sempre em movimento e em transição
Senão o desejo de arrancar as correntes da exploração,
Avançar a consciência coletiva
E erguer a bandeira da revolução.
Ana Flávia Marx