Esse blog passa a ater como título homônimo
da coluna da jornalista Adalgisa Nery, que inspirou Carlos Drummond de Andrade
e Murilo Mendes. Que sua coragem e vivacidade inspirem novas gerações que só querem ver um país forte e soberano.
Tive meu
primeiro contato com Adalgisa Nery (Adalgisa Maria Feliciana Noel Cancela
Ferreira, seu nome de batismo) no final do ano passado. Enquanto realizava uma
pesquisa nas edições do jornal A Última Hora, do grande jornalista Samuel
Wainer, me deparei com a sua coluna “Retrato sem retoque”.
A coluna de
Adalgisa me chamou atenção pela vivacidade de suas palavras. Também pudera.
Desde criança sua postura era essa: viva perante a inércia do status quo. Na adolescência, quando
estudou em um colégio de freiras, foi expulsa por defender as órfãs que eram
consideradas subalternas e, por isso, eram muito maltratadas.
Seu primeiro
casamento foi com o pintor Ismael Nery, precursor do Modernismo no Brasil, com
quem casou aos 16 anos e ficou até a morte do artista.
Depois de
Ismael, Adalgisa casou-se com o jornalista e advogado Lourival Fontes, diretor
do temível Departamento de Imprensa e Propaganda. Mas antes que um leitor já a
julgue pela trajetória de seu marido é importante salientar – em tempo - que ela
utilizava a profissão do seu marido como seu escudo para escrever sobre a
história que participava.
Adalgisa era
diferente dos personagens daquele enredo ditador. Ao visitar o México, mesmo em
agenda de Lourival, ficou amiga de Diego Rivera – que chegou a pintá-la - e Frida
Kahlo. Depois da separação do casal, Adalgisa escreveu histórias que só sabiam
quem acompanhava o convívio dos militares.
Jornalismo e Política
Depois da
sua separação com Fontes, Adalgisa mergulhou no jornalismo. Sua coluna é um
verdadeiro retrato sobre a política no governo Vargas.
Por ter
intimidade com as pautas militaristas, ela sabia o que estava por vir. E não
ficou calada. Sua coluna denunciava os limites do militarismo, suas tramas e
uma sólida opinião sobre o patamar e desafios do desenvolvimento do país.
Sua coluna
foi um sucesso entre os leitores. Adalgisa era reconhecida por sua opinião e
pelo enfrentamento que fazia às forças poderosas. E, como uma líder daquele
tempo, foi eleita deputada três vezes, primeiro pelo Partido Socialista
Brasileiro (PSB) e, depois, pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB).
Em 1969 teve
seu mandato e direitos políticos cassados e voltou a escrever poesia.
Poesia
Ela que já
tinha sido a musa inspiradora de Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes,
após anos sem publicar poesias, voltou a escrever.
Quem lê os
poemas de Adalgisa sente o peso de sua trajetória. Suas poesias são sofridas,
desalentadas e solitárias, mas mesmo assim belíssimas.
Adalgisa
morreu em uma casa de repouso, em 1980, três anos depois de ter um acidente
vascular cerebral.
“E no faminto
inconsciente, o tempo
Sorvendo com fúria o
seu sustento
No insondável silêncio
de mim mesma”
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